Nesta página organizei as perguntas mais comuns sobre construção artesanal de veleiros e barcos, separadas por categorias. Clique na pergunta para ver a resposta. Caso sua pergunta não tenha sido respondida, deixe sua dúvida no formulário de contato. Farei todo o possível para respondê-la em breve. Obrigado.
construção artesanal
Quero construir um barco para motor até 15 hp, qual é o melhor projeto?
Com 15 hp você não vai atingir velocidades de planeio, a não ser que o barco seja muito pequeno e leve. Se você quer uma lancha capaz de carregar 4 passageiros e oferecer algum conforto, deverá procurar um projeto com um casco de deslocamento e não de planeio, que vai oferecer velocidades menores, mas muita economia de combustível. 15 hp tocam uma baleeira de 8m, com 2 toneladas de deslocamento, sem problemas. A velocidade não vai além dos 10 nós, mas você pode ter um barco com uma casaria confortável e capaz de fazer longos percursos com segurança.
Será que eu consigo construir um veleiro?
Se você tem que perguntar, provavelmente está além de suas possibilidades… mas não desista, todo construtor teve que construir o seu primeiro barco, e a madeira é um material muito dócil. Comece com mobiliário, ou modelos, para ir pegando jeito e aprendendo o uso das ferramentas e as características de cada madeira. Visite construtores de barcos, converse com eles, veja os barcos e como foram feitos. Você vai se surpreender com barcos de extrema qualidade construído por amadores que nunca haviam feito nada semelhante antes.
Um projeto de barco tem 3 tipos de desenhos essenciais para sua construção: O plano de linhas, a partir do qual é possível definir dimensões de anteparas e construir o casco, um Plano COnstrutivo, que identifica os elementos estruturais internos e sua montagem, e o Plano Vélico, que orienta na construção da armação e velame. O Plano de Linhas pode ser complementado por uma tabela de Offsets, que oferece coordenadas tridimensionais de cada ponto da intersecção das linhas longitudinais do casco com planos transversais, em intervalos definidos no Plano de Linhas.
reforma de barco
Posso usar resina epóxi para reformar um barco de fibra?
Deve! Nunca use resina poliéster para reformar um barco de fibra, mesmo que ele tenha sido construído com resina poliéster. Poliéster não é um bom adesivo para colagens secundárias, e é sucetível a osmose, mesmo se usar a resina isoftálica. Todos os consertos devem ser feitos com resina epóxi, e a pintura do casco pode ser feita com PU.
Dizem que barcos de madeira dão muita manutenção. É verdade?
Barcos de madeira são, quando em bom estado, muito bons. A madeira é um material leve e resistente. Entretanto, barcos de madeira devem ser tirados da água, recalafetados e pintados a cada 2 anos, pelo menos. Para evitar este aborrecimento, uma sugestão que dou é resinar o casco com resina epóxi, que deixa o casco completamente impermeável, e elimina a necessidade de pintura regular. A resina impede a absorção de água pela madeira, que é a grande causa de vazamentos e apodrecimento. Você também pode aplicar uma camada de fibra (manta ou tecido) no casco, ou ao menos na parte submersa do mesmo, para aumentar a resistência do epóxi, em especial quando você for limpar cracas do fundo, ou na eventualidade de impactos com objetos que podem danificar a camada de epóxi e iniciar um processo de infiltração. Mas para selar um casco de madeira com epóxi é preciso lixar até expor a madeira, que deve estar seca, retirar todo o calafeto e preencher todas as fendas com uma massa a base de epóxi (epóxi com aerosil e carga de serragem e/ou mineral). O epóxi, apesar de muito resistente, deve ser protegido dos raios UV, através de pintura ou aplicação de um verniz specífico (PU alifático).
projetos
Qual a vantagem de comprar um projeto se existem tantos projetos gratuitos?
Comprar um projeto diretamente do projetista é uma garantia de origem, e você em geral terá um projeto mais moderno, e assessoria durante a construção. Projetos gratuitos em geral dão poucas garantias, e muitas vezes são antigos, o que significa que se baseiam em técnicas ultrapassadas ou demasiadamente complexas, e nem sempre são completos o suficiente para que um amador sem experiência consiga construí-los. Mas há ótimos projetos gratuitos por aí. Entretanto, se você procura barcos maiores em Stitch-and-glue, por exemplo, provavelmente terá que comprar. Mas não são caros, em geral custam menos do que 10% do custo do material.
Qual o melhor projeto para construir?
Esta é uma pergunta muito comum, mas a resposta não é objetiva. Depende de muitos fatores, mas leve em conta os seguintes: Relação tempo disponível x vontade de velejar: Isso é importante. Você quer passar os próximos 3 anos construindo um barco, sacrificando todo o seu tempo livre até lá? Ou você quer construir um barco nos fins de semana e estar em 1 ano, 1 ano e meio na água curtindo seu veleiro? Se você não vai dar a volta ao mundo nele, e vai velejar em águas abrigadas, tavez valha a pena escolher um projeto mais simples, de fácil construção. Aplicação real do barco: todo mundo quer um barco rápido, capaz de cruzar o cabo Horn e ainda ter todo o conforto de casa, mas é preciso ser muito racional na hora de escolher um barco para construir. Defina o que você quer dele, que tempo realmente terá para velejar, e onde velejará. Se você mora a beira de uma grande lagoa, construir um barco de quilha de patilhão com calado de quase 2 metros capaz de velejar na convergênca antártica é uma estupidez, por mais que você admire os barcos de Colin Archer. Numa lagoa você precisa de baixo calado, bolina retrátil para poder encalhar às margens para um piquenique, e muita área vélica em especial em lugares de pouco vento, e você pode abrir mão de pesados lastros e dar preferência a estabilidade de desenho. Para velejadas costeiras, você precisa dar atenção maior a estabilidade, ao desenho do casco, e definir seus objetivos: regatas ou passeios? Popas largas em cascos de planeio oferecem boa velocidade, mas velejando com ventos fortes pela popa e muita ondulação espelhos de popa muito grandes podem ser problemáticos. Se você quer velejar no mar, e pretende enfrentar tempo ruim, preste atenção a estabilidade e segurança, que envolve vários fatores. Complexidade de construção: você nunca construiu nem mesmo uma casinha de palitos de picolé, e agora quer construir um barco. Pense então num projeto voltado a simplicidade de construção, e que permita acomodar eventuais erros de construção. É importante também considerar a simplicidade do desenho do barco: quanto menor for, menos peças e mais fácil. Cascos multichine são mais simples, e quanto menos quinas mais fácil, em geral. Um barco de fundo chato é mais simples ainda. $$$: ah, este é sempre o grande fator… lembre-se da regra: ou você faz no prazo, ou faz dentro do orçamento, nunca os dois. Se o dinheiro é limitado, seja um visitante assíduo de desmanches, aprenda a fazer ao invés de comprar, e abandone a pressa. Escolha um projeto que utilize menos material, e reduza o tamanho. O custo aumenta na proporção do quadrado do comprimento, e as ferragens são progressivamente mais caras. Com um barco menor fica fácil comprar velas usadas para cortar e fazer velas menores. Lembre-se, defina exatamente do que você realmente precisa, e escolha o barco que atende melhor a suas necessidades reais. Como se vê, escolher um projeto não é tão simples. Uma boa sugestão é você estudar bastante os projetos, estimar custos e avaliar bem suas reais possibilidades. E não deixe de conversar com gente que entende do assunto, em especial quem já construiu ou está construindo um veleiro.
materiais
Posso usar resina poliéster (mais barata) para laminar fibra de vidro sobre compensado?
Não. Nunca. A não ser que você queira ver seu casco delaminando depois de alguns anos. A resina poliéster não adere bem a madeira, é sucetível a osmose (absorve água) e não tem a resistência do epóxi, ou seja, você vai gastar mais resina para obter um resultado próximo do que obteria com epóxi. Como a resina poliéster contrai muito na cura, ela se fixa mecanicamente no casco. Mas na primeira pancada que curvar, mesmo que levemente, o costado (incluindo ondas), a madeira fai descolar da fibra e você terá um ponto fraco no casco (e talvez uma infiltração). Deixe de ser sovina e faça seu barco direito. Use epóxi.
A única resina que deve ser aplicada sobre madeira é resina epóxi. Resina poliéster não adere a madeira, e delamina após impactos, ou depois de alguns anos, além de ser sucetível a osmose. O rendimento depende da fibra. Para cada kg de fibra aplicada, considere 1kg de resina, fora a resina usada na colagem e acabamento.
Posso usar um compensado comum ao invés de compensado naval?
Há muitos mitos e idéias errôneas quando o assunto é construção de barcos. Um preconceito que se tem é de que somente compensado naval de cedro deve ser usado na construção de embarcações. A diferença entre compensado naval, tanto de pinus, virolinha e cedro e compensados comuns, é que estes tem nós e vazios entre as camadas de compensado. Estes defeitos podem ocasionar falha do material quando ele for curvado para se conformar ao desenho do casco, em especial na proa, próximo à roda de proa, onde em geral o compensado é curvado e torcido. Mas em anteparas, mobiliário e reforços internos, e até mesmo no espelho de popa, pode-se usar compensado naval de qualidade inferior, ou até mesmo um bom compensado comum (desde que colado com resina fenólica). Há alguns compensados que são colados com cola branca, solúvel em água, e que portanto são impróprios para qualquer aplicação num barco. Entretanto, se for possível determinar que determinado compensado é feito com lâminas coladas com cola fenólica, então este compensado pode ser usado na construção naval. Como o compensado vai ser inteiramente selado com epóxi, ele não estará sujeito à ação da umidade. Vai manter suas dimensões e forma, e vai durar tanto ou mais que o casco de compensado naval. Na verdade você pode até fazer o casco com compensado comum, só que se o compensado tiver algum defeito e rachar quando você estiver curvando-o, você vai perder uma placa de compensado, e vai gastar mais substituindo-o do que se tivesse usado uma chapa de compensado naval para começar. Além disso, especialmente na parte inferior da proa, o impacto das ondas e os esforços do próprio estaiamento do barco sobrecarregam bastante o casco, então é bom não economizar nesta área. Mas lembre-se, resina epóxi em tudo, para selar completamente toda a madeira.
Qual o melhor material: fibra ou compensado naval?
O fato de que quase todos os veleiros construídos hoje sejam feitos de GRP (plástico reforçado com fibra de vidro, ou simplesmente fibra de vidro) não quer dizer que este é o melhor material para barcos construídos artesanalmente. Quando a fibra de vidro chegou ao mercado, rapidamente substituiu a madeira como material de contrução de veleiros, especialmente barcos feitos em série. Isto porque os barcos da época faziam água, exigiam manutenção cuidadosa e tinham durabilidade limitada, mesmo os de compensado naval, pois as colas da época não eram completamente à prova d´água. Com o surgimento das resinas epóxi, a questão da durabilidade dos cascos de compensado naval foi resolvida. Mas afinal, compensado naval é melhor que fibra de vidro? Vejamos: A resina poliéster, apesar de resistente, é pesada (densidade em torno de 4 toneladas por metro cúbico, enquanto a madeira tem em média 0,75 toneladas por metro cúbico), precisa ser muito bem isolada da água, pois é sucetível à osmose, e é difícil de lidar, devido aos odores e ao pó de lixa extremamente perigoso. Por outro lado, é ideal para produção em série, a partir de moldes. Não há como competir com a fibra quando o assunto é velocidade de cosntrução (considerando que você já tem os moldes). O compensado naval é leve (madeira bóia, jogue um pedaço de fibra na água para ver o que acontece), muito resistente devido ao posicionamento das fibras de cada camada, e com resina epóxi, é completamente impermeável. Com uma fina camada de fibra de vidro impregnada com resina epóxi, o compensado tem excelente resistência a abrasão. Além disso, devido a baixa densidade da madeira, é possível utilizar chapas de espessura maior, que por seu maior momento de inércia, tem mais resistência a flexão e ainda são mais leves que cascos de fibra de vidro. O compensado tem limitações de forma, só pode ser curvado em uma direção, por isso deve-se usar construção multichine ou aplicar tiras diagonais sobre balizas para ter um barco de casco curvo. Cascos multichine oferecem maior resistência ao movimento, mas um projeto cuidados pode minimizar este problema. A questão estética tem sua importância, há aqueles que não gostam de cascos multichine. Madeira é um material com excelentes características térmicas e acústicas, sem falar que a madeira é mais aconchegante, especialmente no interior da cabine (há certos barcos de fibra que parecem com o banheiro da minha casa, com toda aquela fibra branca). Compensado naval é ideal para construção artesanal, a madeira é dócil, leve, fácil de cortar, furar e colar. A resina epóxi não tem cheiro forte, e por não usar solventes é bem menos tóxica, em especial depois de curada. É claro que barcos de fibra sempre terão seus defensores. Roberto Barros, o Cabinho, projeta barcos com cascos feitos em fibra de vidro impregnada com resina poliéster isoftálica de grande espessura, na prática, são cascos de fibra com estrutura de madeira. Há sérias questões no que concerne a adesão da resina poliéster à madeira. Resina poliéster só adere a poliéster. A delaminação é um risco permanente. Nos barcos do Cabinho a contração da resina poliéster produz uma união mecânica entre o casco de fibra e o casco de compensado naval, mas nem de longe a resina poliéster se compara a epóxi. Ao que parece, substâncias presentes na madeira inibem a cura da resina que está em contato com a madeira, assim, a resina que penetra na madeira nunca chega a endurecer. São conhecidos os casos de delaminação em grandes placas de fibra de vidro que se soltam de cascos de barcos antigos, construídos antes das resinas epóxi. No caso da resina epóxi, por aderir muito bem em diversos tipos de superfície (metal, madeira, etc) a resina que penetra na madeira funciona como milhões de micro “garras” que prendem nas fibras e impede o descolamento da mesma. Além disso, a resina epóxi é mais flexível que a poliéster,além de mais resistente, e por isso é possível trabalhar com camadas mais finas. O maior custo da resina epóxi é compensado pela menor quantidade necessária para fibrar o barco.
técnicas de construção
Qual o método mais apropriado para um veleiro construído artesanalmente?
Eis uma pergunta que não tem resposta pronta. Depende do que você considera mais importante: é tempo de construção? Custo? Complexidade? Há 4 métodos principais que amadores utilizam na construção de barcos de madeira: compensado naval quinado sobre balisas (multichine), compensado naval sobre balisas com casco redondo (round bilge), stitch-and-glue (costure-e-cole) e strip-planking. Como são estes métodos? Compensado naval sobre balisas : o método mais comum, e que abarca todos os projetos do CD que você pode adquirir aqui, se baseia na fixação, com adesivo epóxi ou fenólico, de placas do casco sobre balisas ou anteparas, e longarinas, depois selado com resina epóxi com ou sem fibra de vidro. É barato, relativamente simples, e resulta em barcos leves e robustos. Compensado naval com casco redondo: semelhante ao método acima, mas o compensado é cortado em tiras e aplicadas diagonalmente, em duas camadas geralmente. Vantagem: casco redondo, oferece menor resistência. Desvantagem: tempo de construção muito maior, maior custo. Strip-planking: neste método, tiras de cedro ou similar são aplicadas longitudinalmente sobre balisas, e coladas uma à outra. Resulta em cascos robustos, leves, e permitem que se construa, em casa, cascos de curvas complexas que seriam muito difíceis de construir por métodos tradicionais, como tabuado sobre cavernas moldadas a vapor. Stitch-and-glue: Método que só foi possível com o advento da resina epóxi e do compensado naval. Placas do casco são cortadas e unidas uma a outra com arame de cobre ou até braçadeiras de plástico (zip-tie). A união das chapas é feita com fitas de fibra de vidro e resina epóxi. A vantagem é a rapidez na construção, ótimo aproveitamento do espaço interno e baixo custo. Desvantagem: consome mais resina epóxi, o que em parte é compensado pela menor quantidade de madeira bruta (longarinas, vaus, reforços nas anteparas para fixação do casco, etc).